Transtorno bipolar: muito mais que uma mudança de humor
Estima-se que o problema afeta a mais de 4 milhões de brasileiros, nem sempre recebendo a devida atenção e tratamento.
O termo "bipolar" tornou-se popular na sociedade, sendo utilizado informalmente para referir-se a pessoas que mudam de humor bruscamente. O que a maioria das pessoas sequer imaginam é que o transtorno bipolar se trata de algo muito mais sério do que uma simples alteração no humor, podendo comprometer significativamente o funcionamento social e profissional de quem lida com o problema. Isso sem contar a possibilidade de poder causar danos permanentes em sua saúde e sua vida.
Entenda o que é transtorno bipolar
O transtorno bipolar é um transtorno do humor, que faz com que a pessoa que o possua oscile entre dois extremos de funcionamento, o qual chamamos de episódios de mania e depressão.
A mania trata-se de um comportamento eufórico, intenso e ausente de crítica quando se trata da reflexão de prejuízos e riscos. Já o período depressivo faz com que o humor seja deprimido, sendo experienciadas sensações de culpa, tristeza e ideações suicidas.
O transtorno pode ser diagnosticado em 3 tipos:
-bipolar tipo I,
-bipolar tipo II,
-ciclotimia.
O que difere os tipos I e II é o período de duração de cada fase de humor (mania e depressiva), as quais podem permanecer por dias ou semanas. Já a ciclotimia é considerada um "quadro mais leve" do transtorno; a pessoa tem prejuízos menores, mas em muitos casos é possível que seja mal compreendida por sua labilidade emocional, sendo vista como uma pessoa instável ou irresponsável.
As características dos episódios de mania e depressão
Quem está no período de mania facilmente é confundida com uma pessoa espirituosa, produtiva e espontânea. Isso acaba provocando que muitos que estão ao redor, seja no círculo social, familiar ou profissional, não se atentem à gravidade que este funcionamento pode ocasionar. As características mais comuns dessa fase são:
-humor expansivo, irritável ou excessivamente alegre;
-sensação de estar no "topo do mundo";
-sentimento de grandiosidade;
-redução da necessidade do sono (pode sentir-se descansada com apenas 3 horas de sono ou até mesmo passar dias sem dormir sem queixar-se de cansaço);
-apresenta agitação psicomotora, demonstrando inquietação;
-torna-se loquaz, falando de maneira rápida e tagarela;
-possui fuga de ideias e pensamentos acelerados, fazendo com que ao longo de uma conversa sejam abordados muitos assuntos ao mesmo tempo, dificultando a conclusão de qualquer um deles;
-distração: a atenção é facilmente desviada por qualquer estímulo, seja a roupa de uma outra pessoa ou um móvel que se encontra no ambiente;
-aumento de energia, o que impacta suas atividades (profissionais ou escolares) e faz com que sua produtividade seja acima do normal;
-envolve-se em vários projetos ao mesmo tempo;
-pode mudar seus hábitos de vestimenta ou a forma como faz sua maquiagem;
-demonstra interesse por jogos de azar.
Talvez a característica que mais possa trazer prejuízos são as atitudes impulsivas, fazendo normalmente com que aquele que se encontra no período de mania:
-tenha um surto de compras, adquirindo muitos itens desnecessários sem que possua condições financeiras para arcar com isso. A consequência direta é contrair grandes dívidas;
-demonstra indiscrição sexual, o qual faz com que seu comportamento sexual leve à infidelidade ou motive encontros sexuais com estranhos, sem atenção a riscos de doenças sexualmente transmissíveis ou consequências interpessoais;
-realização de investimentos financeiros insensatos;
-doação de objetos pessoais;
-direção imprudente, aumentando riscos de acidentes, colocando sua vida e a de terceiros em risco.
Já o episódio depressivo é marcado por:
-humor deprimido, sendo relatadas sensações de tristeza, vazio e falta de esperança;
-perda de interesse e prazer em suas atividades, hobbies e relacionamentos;
-perda ou ganho de peso;
-insônia ou sono excessivo;
-fadiga;
-perda de energia;
-sentimentos de inutilidade;
-culpa excessiva, às vezes sentindo culpa por estar doente;
-pensamentos recorrentes de morte, podendo estar relacionados a medo de morrer, ideação suicida ou tentativa de suicídio.
Falando de tratamento do transtorno bipolar
O tratamento do transtorno bipolar demanda atenção multiprofissional, sendo indispensável acompanhamento médico psiquiátrico, considerando que apenas o suporte medicamentoso é capaz de estabilizar o humor, evitar futuras oscilações e prejuízos.
O psicólogo auxilia nas questões emocionais e propicia apoio principalmente nos episódios de depressão e no manejo com os prejuízos devastadores, resultados dos episódios de mania, dentre eles contração de dívidas, desemprego, divórcio, entre outros.
Principalmente durante os episódios de mania, é comum que as pessoas não percebam ou reconheçam que estão doentes. Por sentirem-se muito bem, resistem e negam o tratamento, fazendo com que seja absolutamente necessária a participação dos familiares que, nesse momento, serão os responsáveis pelo zelo da saúde daquela pessoa, a qual sofre pela falta de crítica em seus julgamentos e escolhas temporariamente.